21 de Abril de 1799

New York é situada em uma península formada pelo rio Hudson (Nota à margem – É uma verdadeira ilha a que chamam York Island, porque é um regato que atravessa o rio Hudson para o sound, e que se passa em uma ponte em Kings Bridge – vid. dias 22 e 27 deste mês; dias 3, 9, 14, 17 e 22 de maio, 12 de junho e 5 de julho) e a costa do mar. Este cabo defendido pela parte do mar por uma grande ilha a que chamam Long-Island, e o canal, que fica entre esta ilha e a ponta de terra em que New York está situada, é mais estreito que o rio Hudson que banha New York pela parte de Oeste, e, por isso, melhor ancoradouro para as embarcações, sendo a parte da vila onde há os cais e estabelecimentos do comércio. Na extremidade da cidade, que fica voltada para o sul, e que está na ponta da língua da terra, há duas baterias ao longo da praia, que me pareceram tão inúteis como ridículas; inúteis, porque defendem a parte da cidade que fica voltada para fora e tem uma ilhota defronte chamada Governor’s Island (Nota à margem – Esta ilhota tem uma pequena fortificação e um destacamento dos Estados Unidos.
New York foi chamado New-Amsterdão, e a ilhota em que está Mamtam e que por conseqüência serve de abrigo a qualquer esquadra que se ponha detrás desta pequena ilha, sem que a bateria lhe possa fazer algum dano; de mais, estando só nesta extremidade da cidade, nada proíbe que as embarcações façam uma volta encostando-se à terra firme, e, vindo assim sempre fora do alcance da artilharia, ataquem a cidade por todos os outros pontos onde não há nenhuma defesa; achei-a também ridícula, porque a bateria, ou parapeito, é construída de madeira, tábuas e viga cruzadas umas sobre as outras; não pode manter-se o riso quando se vê uma fortificação deste gênero, que em alguns anos por si se desfaz, e que, com qualquer artilharia, se fazem achas para o fogo). À excepção desta porção, que as baterias ocupam, e que tem passeio pela parte de fora sobre o mar, uma espécie de alameda pela parte interior, toda a mais praia é ocupada por armazém e cais de particulares, bem como Filadélfia, o que tira toda a decoração da cidade, aliás, muito melhor situada que Filadélfia, pois que a vista da baía do Hudson é sumamente aprazível; entretanto, a do Delaware não vale nada nem se pode gozar, por ser a terra muito baixa. A arquitetura de New York é a mesma de Filadélfia, tendo algumas coisas mais vantajosas e algumas piores; há, por exemplo, em New York, muitos edifícios regulares, e com boas frentes, tal é a casa do Governo (Governement house), a Estalagem da Cidade (City Tavern) e a Praça do Comércio (Coffee House), o banco, muitas igrejas, a prisão, etc. (Nota à margem – Há 3 prisões em New York: a dos devedores e a prisão da polícia, que estão quase juntas (vid. dia 27), e a prisão do Estado, que fica quase fora da cidade, em Greenwich Street, um edifício regular novo, tem dois anos, e que é um estabelecimento como o de Filadélfia.) Isto em Filadélfia não acontece porque aí não há um só edifício que apresente uma frente regular: o arrumamento de New York é indigno, as ruas são pela maior parte muito estreitas, todas com tortuosidades, e há tais que formam um perfeito semicírculo; os passeios, sendo estreitos, são sempre mais angustos pelos bancos que há nas portas, pelas escadas para se entrar para as casas e pelos alçapões das cavas ou subterrâneos, que são feitos com o mesmo mau método de Filadélfia. Aqui, há algumas, inda que muito poucas, casas cobertas de telha, sendo quase todas cobertas de pedacinhos de tábua imbricados como em Filadélfia, e muitas casas são todas de tábuas, o que as faz tão sujeitas aos incêndios que é raro arder uma só casa. Hoje, pegou fogo em uma casa junto à estalagem em que eu estava, e eu, vendo a proximidade do mal, peguei na minha mala às costas, e não parei com ela senão na outra extremidade da cidade, e depois que a deixei em uma casa de pasto voltei para ver o fogo, que, ajudado do forte vento que fazia, tinha já consumido a estalagem em que eu morava, e devorou por fim todo o quarteirão em roda, que fica imediato à praia, e com muito custo se embaraçou a que não atravessasse a rua, pois que as casas defronte ficaram todas tostadas. (Nota à margem – Com este mesmo fogo pegou fogo a torre de S. Paulo, que fica 200 braças distante, pelas faíscas que iam pelo ar.) As torres são todas de madeira. Há aqui um hospital que o Estado sustenta, e de que tenho a carta; tem até 60 doentes. Há uma casa dos pobres e o City Dispensary. Tem 3 bancos: U. S. Bank, Barth Bank of N. Y. incorporado em 91.950 mil de capital, divide 9 por cento; e o Manatam Bank, para as águas.) As providências para o fogo foram aparecerem algumas bombas muito boas; cada uma delas numeradas e acompanhadas por homens que traziam uns chapéus de sola com chapas, ou costuras, altas da mesma sola, para evitar as faíscas, ou outras coisas que lhe possam cair na cabeça; neste chapéu está escrito o número da sua bomba; e alguns trazem uma vara na mão, que é uma insígnia para denotar que estes são os diretores das bombas, e toda a mais gente lhe deve obedecer; assim, são eles quem determinam onde as bombas se devem pôr, e arrumam todo o povo, que chega, em duas alas, desde as bombas até ao lugar onde está a água, e esta gente, assim arrumada, vai passando, de mão em mão, os baldes, dos quais cheios passam por uma ala, e os vazios, que tornam da bomba, vão pela outra ala; outros destes homens, que tem o número no chapéu, trazem um saco às costas, também numerado, e estes entram nas casas e pedem aos donos o que há de mais precioso, como papéis, dinheiro, etc., e o vão depositar; para esta classe são escolhidos os homens de maior probidade da cidade, que, assim como os outros das bombas, são nomeados pela corporação governo da cidade e isentos de todos os encargos civis. É admirável a ordem que se guardou, apesar do alarido, que obrigava os directores a falar pelas trombetas que cada um trazia.
New York foi chamado New-Amsterdão, e a ilhota em que está Mamtam e que por conseqüência serve de abrigo a qualquer esquadra que se ponha detrás desta pequena ilha, sem que a bateria lhe possa fazer algum dano; de mais, estando só nesta extremidade da cidade, nada proíbe que as embarcações façam uma volta encostando-se à terra firme, e, vindo assim sempre fora do alcance da artilharia, ataquem a cidade por todos os outros pontos onde não há nenhuma defesa; achei-a também ridícula, porque a bateria, ou parapeito, é construída de madeira, tábuas e viga cruzadas umas sobre as outras; não pode manter-se o riso quando se vê uma fortificação deste gênero, que em alguns anos por si se desfaz, e que, com qualquer artilharia, se fazem achas para o fogo). À excepção desta porção, que as baterias ocupam, e que tem passeio pela parte de fora sobre o mar, uma espécie de alameda pela parte interior, toda a mais praia é ocupada por armazém e cais de particulares, bem como Filadélfia, o que tira toda a decoração da cidade, aliás, muito melhor situada que Filadélfia, pois que a vista da baía do Hudson é sumamente aprazível; entretanto, a do Delaware não vale nada nem se pode gozar, por ser a terra muito baixa. A arquitetura de New York é a mesma de Filadélfia, tendo algumas coisas mais vantajosas e algumas piores; há, por exemplo, em New York, muitos edifícios regulares, e com boas frentes, tal é a casa do Governo (Governement house), a Estalagem da Cidade (City Tavern) e a Praça do Comércio (Coffee House), o banco, muitas igrejas, a prisão, etc. (Nota à margem – Há 3 prisões em New York: a dos devedores e a prisão da polícia, que estão quase juntas (vid. dia 27), e a prisão do Estado, que fica quase fora da cidade, em Greenwich Street, um edifício regular novo, tem dois anos, e que é um estabelecimento como o de Filadélfia.) Isto em Filadélfia não acontece porque aí não há um só edifício que apresente uma frente regular: o arrumamento de New York é indigno, as ruas são pela maior parte muito estreitas, todas com tortuosidades, e há tais que formam um perfeito semicírculo; os passeios, sendo estreitos, são sempre mais angustos pelos bancos que há nas portas, pelas escadas para se entrar para as casas e pelos alçapões das cavas ou subterrâneos, que são feitos com o mesmo mau método de Filadélfia. Aqui, há algumas, inda que muito poucas, casas cobertas de telha, sendo quase todas cobertas de pedacinhos de tábua imbricados como em Filadélfia, e muitas casas são todas de tábuas, o que as faz tão sujeitas aos incêndios que é raro arder uma só casa. Hoje, pegou fogo em uma casa junto à estalagem em que eu estava, e eu, vendo a proximidade do mal, peguei na minha mala às costas, e não parei com ela senão na outra extremidade da cidade, e depois que a deixei em uma casa de pasto voltei para ver o fogo, que, ajudado do forte vento que fazia, tinha já consumido a estalagem em que eu morava, e devorou por fim todo o quarteirão em roda, que fica imediato à praia, e com muito custo se embaraçou a que não atravessasse a rua, pois que as casas defronte ficaram todas tostadas. (Nota à margem – Com este mesmo fogo pegou fogo a torre de S. Paulo, que fica 200 braças distante, pelas faíscas que iam pelo ar.) As torres são todas de madeira. Há aqui um hospital que o Estado sustenta, e de que tenho a carta; tem até 60 doentes. Há uma casa dos pobres e o City Dispensary. Tem 3 bancos: U. S. Bank, Barth Bank of N. Y. incorporado em 91.950 mil de capital, divide 9 por cento; e o Manatam Bank, para as águas.) As providências para o fogo foram aparecerem algumas bombas muito boas; cada uma delas numeradas e acompanhadas por homens que traziam uns chapéus de sola com chapas, ou costuras, altas da mesma sola, para evitar as faíscas, ou outras coisas que lhe possam cair na cabeça; neste chapéu está escrito o número da sua bomba; e alguns trazem uma vara na mão, que é uma insígnia para denotar que estes são os diretores das bombas, e toda a mais gente lhe deve obedecer; assim, são eles quem determinam onde as bombas se devem pôr, e arrumam todo o povo, que chega, em duas alas, desde as bombas até ao lugar onde está a água, e esta gente, assim arrumada, vai passando, de mão em mão, os baldes, dos quais cheios passam por uma ala, e os vazios, que tornam da bomba, vão pela outra ala; outros destes homens, que tem o número no chapéu, trazem um saco às costas, também numerado, e estes entram nas casas e pedem aos donos o que há de mais precioso, como papéis, dinheiro, etc., e o vão depositar; para esta classe são escolhidos os homens de maior probidade da cidade, que, assim como os outros das bombas, são nomeados pela corporação governo da cidade e isentos de todos os encargos civis. É admirável a ordem que se guardou, apesar do alarido, que obrigava os directores a falar pelas trombetas que cada um trazia.
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