9 de Março de 1799


Hoje, estive na sinagoga dos judeus: eram 10 horas e por isso estava o ofício Divino acabado. A casa era quadrada, com bancos ao redor; em uma das paredes havia uma espécie de armário que, sendo aberto, vi que tinha dentro uns como candeeiros de prata, e o armário estava por dentro forrado de seda, e tinha cortinados ricos, cortinas vermelhas e o forro branco, e galões d’ouro; o armário por fora era muito pouco ou nada decorado; na sumidade tinha um escudo d’armas feito em talha de madeira doirada e pintada, que tinha em cima uma espécie de coroa, e no escudo, que era azul, letras d’ouro em hebraico; diante havia uma pequena lâmpada; no meio da casa estava uma mesa alta forrada de vermelho, com duas cadeiras, de modo que quem se sentava nelas ficava justamente virado para o tal armário; o pavimento em que estava a mesa, que era mais elevado que o pavimento da casa, estava cercado por grades de pau, assim como estava também o tal armário, que tinha ao pé dois degraus cobertos com tapete. O homem único que ali encontrei me pareceu um sacerdote, por que foi abrir o tal armário e procurar não sei que, e o tornou a fechar. Ele me disse que podia tornar sábado, às 9 horas da manhã, ou 6ª feira à noite (vide dia 16 deste mês).
Uma observação me foi feita; que as leis de alguns Estados da União, que dão a liberdade aos escravos, depois de servirem certo número de anos, são mais contra o escravo que a seu favor; porque o senhor aproveita o trabalho do escravo enquanto ele é moço e o despreza depois que é velho, vindo o escravo a ficar sem nenhum amparo na idade em que mais o precisava, e, com efeito, depois destas leis se vêem muitos pretos a pedir esmolas pelas ruas, porque não podendo trabalhar, e não tendo senhor, não há alguém que seja obrigado a sustentá-los.

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