1 de Novembro de 1798

O meu enjôo tendo continuado sem interrupção me tem impossibilitado de continuar as minhas observações; entretanto só aconteceu de notável que a 28 do mês passado, pelas 6 horas da tarde, se levantou um tão impetuoso vento que o capitão mandou arriar os mastaréus do joanete, descer as vergas deles e ferrar todo o pano. Às 10 horas o vento era N. E. com chuva, e o mar tão grande que, para dar alguma expedição ao navio, o capitão largou a gávea grande nos terceiros rins, e vela de estai de proa; mas a este tempo o vento se mudou para N. O. soprando com mais impetuosidade, e como o mar corria do N. E. este encruzamento nos teve por vezes perdidos, de modo que entrou um mar pela escotilha da câmara (eram 10 1/2 horas) que tendo alagado tudo me fez supor que íamos a pique. A tempestade amainou pelas 4 horas da manhã, mas inda hoje dura a braveza do mar que as duas tempestades causaram. Ontem, pelas 5 horas da tarde, avistamos a Ilha de Santa Maria pelo S., indo nós com proa de N. O., 4ª de O.; pelas 10 da noite, apareceram, também S., duas velas, que pareciam querer-nos cruzar.

O capitão temendo serem corsários, se aproveitou do vento que era N. O. e do escuro que sobreveio, virou de bordo e veio passar por E. de Santa Maria para se pôr a S. desta ilha, de sorte que às 2 horas da noite vimos claramente a terra demorando a N. e em distância de duas milhas.

Tornou a haver chuva, e hoje, às 10 da manhã, que fui acima da coberta, vi, por entre nuvens, a terra que demorava ao N. E., 4ª de E., e, ao meio-dia, a perdemos de vista fazendo proa de O. que, com duas quartas de variação da agulha, fazemos caminho de O. S. para fugirmos das outras ilhas – continua o enjôo.

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