10 de Dezembro de 1798

Pelas 2 1/2 horas da noite, quebrou a amarra com a fortaleza do vento. Achava-se o capitão e toda a mais equipagem a dormir (como é costume deles) e, acordado, ao pé do fogão da câmara, o piloto da barra conversando comigo, que estava deitado no meu beliche, quando ouvimos o navio bater no fundo contra a praia; levantou-se a chamar pelos marinheiros que vieram depois de algum tempo, e ele largou para o fundo a esperança, mas já o navio estava encalhado; levantou-se depois o capitão, mas em toda a noite se não trabalhou nem ao menos em espiar o navio, apesar de que o capitão esperava a cada passo ver o navio feito em pedaços, pois que a carga era de sal. Felizmente o navio rolou para uma parte onde era lodo, de modo que não teve dano nenhum.

Quando foi manhã deitaram uma espia que, aos primeiros estirões, quebrou, mas o navio se pôs em nado, e se tratou de o marear e suspender a âncora, pois que o vento era alguma coisa favorável para o safar da terra; mas as veias e cabos tinham adquirido no dia antecedente uma crusta vítrea de neve que parecia tudo envernizado, e não se podiam alar os cabos nem ferrar ou largar as velas, cada corda parecia forrada por um tubo de vidro. Igualmente estava coberto todo o navio, de modo que, para se deitar a lancha ao mar, foi preciso cortar a machado todos os cabos que a seguravam porque se não podiam desatar. Às 10 horas, principiou o sol a derreter alguma neve, e o navio nadou mais alguma coisa para fora, e fundeamos quase no mesmo lugar onde se nos quebrou a amarra. Passaram por nós duas chalupas a quem o capitão falou para lhe irem buscar a âncora perdida, mas não quiseram. Hoje, soube que dois marinheiros, Old Thom e Peter, fazem o seu diário, e que nele têm assento as faltas de mantimento que tem havido e todas as mais coisas interessantes, porque fazem tenção de se queixar do capitão quando chegarem a terra.

Etiquetas: